O que mandarás escrever em tua lápide?

A ideia de ser enterrado, como é o costume na nossa cultura, não me agrada nem um pouco. Isso tem a ver com o facto de ainda não entender que o corpo vai mesmo deteriorar-se e reorganizar os seus átomos e moléculas em novo húmus.
Seja como for, não me agrada essa ideia e preferia ser atirado ao mar!
No entanto, e apesar disso, não iria fazer tamanha maldade e dar esse trabalho aos que cá ficaram e que terão a incumbência de dar um arrumo no meu cadáver. Assim, que seja o mais barato e mais prático, porque após o último sopro, já era.
A carne e o osso que até então fizeram uma odisseia, deixam de ter qualquer uso. Além do uso, deveriam deixar também de ter significado. Os cemitérios deveriam ser apenas locais de enterro e não de romaria. Esse ritual mostra que temos dificuldade em nos suportarmos a nós próprios sozinhos, o que, na verdade, temos e acabamos por fazer, cada um à sua maneira, mais ou menos assumida, mais ou menos emancipada, mais ou menos corajosa, mais ou menos feliz, mais ou menos, tudo ou qualquer coisa.

Considerando que não vou pôr entraves ao meu enterro sob os habituais sete palmos, nem a que ponham uma lápide sobre a minha campa, podem lá escrever uma coisa do género:

"Então mas não vêem que eu não estou aqui?! Nem aqui nem em lado nenhum! Já não existo?!! O meu corpo está aqui! Eu, não sei!
Passei de nível! Acabei! Estou noutra! Finalmente, cheguei a este incontornável destino! Ufa!"

Como rendilhado, podem acrescentar:

"Agora, ou sei as respostas a todas ou algumas das nossas mais profundas questões existenciais ou então evaporei mesmo!
Pelo sim, pelo não, deixa-me aqui o teu e-mail. Pode ser que seja o primeira caso e que eu arranje maneira de finalmente fazer uma fuga de informação!
Vai vendo o spam! ... mas sem stress!"