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Mensagem  Filipe de Albuquerque Sáb Set 19, 2009 2:19 pm

Do Amor, ou O Primeiro Degrau
Sunday, August 30, 2009
By Paulo Ghiraldelli

Beijo Eterno, William Zedig, 1920, Largo São FranciscoRichard Rorty, o mais intrépido filósofo do século XX, dizia que ele havia começado a ler Platão na sua época de High School e, a partir daí, iniciado um percurso de decepção com o filósofo. Por um único motivo: nunca conseguiu chegar ao lugar em que Platão dizia que, pelos olhos do espírito, se vislumbraria o BEM, como quem sai da caverna e vislumbra o sol, com os olhos do rosto.

Um século antes de Rorty se tornar um filósofo conhecido no mundo todo, Nietzsche disse “Deus está morto”. A frase deve ser entendida em um sentido filosófico, não necessariamente religioso. “Deus está morto” queria dizer: estamos já no tempo em que a Verdade (ou o Bem, o Belo etc.) não são mais aquilo no qual acreditamos que podemos alcançar. Rorty fez parte desse tempo, uma situação que perdura.

Uma boa parte dos filósofos contemporâneos levou bem a sério a observação de Nietzsche “Deus está morto”. Ela teve um complemento. Trata-se de outra frase, também nietzschiana: “acreditamos em Deus porque acreditamos na gramática”. Com isto, Nietzsche queria dizer que para os defasados, os que ainda não haviam visto a morte de Deus, haveria uma explicação. Estavam em dissintonia por causa do próprio uso da linguagem que, enfim, obriga-nos à conversação que, a cada frase, coloca um sujeito para fazer a ação, o que faz cada usuário cair na tentação metafísica de reificar esse sujeito, dando-lhe existência metafísico-ontológica, e não só lingüística. Esses pontos de reificação se fortalecem e viram entidades poderosas. Se a linguagem exige que acreditemos que para cada ação há uma causa e esta, por sua vez, é chamada de sujeito, daí para que exista um Grande Sujeito, uma Causa Não Causada, não custa muito. Eis como que Deus está embutido na linguagem.

Ora, a cultura judaico-cristã conseguiu aproveitar Platão nesse seu projeto filosófico religioso em torno do monoteísmo. Platão dizia que o Bem não era uma palavra somente, era uma Forma ou Idéia com estatuto ontológico – seria real e, assim, ocuparia um mundo, o chamado Mundo das Formas ou Mundo das Idéias. Sendo cada Forma o correspondente perfeito do que há no mundo sensível, o Bem – a Perfeição – seria exatamente o esteio e alimento de todas as Formas.

Em A República, Platão propôs um caminho para se alcançar o Bem. Em o Banquete, ele relata algo um pouco diferente. Ele coloca Sócrates descrevendo o caminho como uma escada. A investigação dialética do elenkhós, exercida com os interlocutores, tendo no horizonte o “Conhece a ti mesmo”, poderia fazer com que alguém chegasse ao topo da escada e, uma vez lá, seria banhado pela luz do Bem. No caso de O Banquete, pela luz do Belo. Quem realmente é filósofo tem de acreditar, ao menos em algum momento de sua vida, que isso é possível. Quem começa a filosofia desacreditando de Platão, não começa. Uma boa parte dos filósofos morre desacreditando dele, ou desacreditando que a escada pode ser subida até seu último degrau. O que não pode fazer é começar já desacreditando dele.

A maior parte dos filósofos, talvez todos, olha para a dificuldade da escada indicada por Sócrates como sendo uma empresa difícil nos últimos degraus. Dar o passo para o último degrau é o que todos acreditam ser o mais terrível, e uma boa parte termina por defender a idéia de que isso é impossível. Outra parte, ainda, acredita que o melhor seria nunca Platão e Sócrates terem desenhado o caminho filosófico segundo a metáfora de tal escada. Até aí, é o que sempre escutamos. Nunca ouvi um filósofo dizer que, talvez, o problema não seja o último passo, mas o primeiro. Todavia, será que não valeria a pena em perguntar exatamente isso? Será que o primeiro passo é completamente corriqueiro, accessível para qualquer um? Ou se, de tanto olhar para a escada e ver que é muito íngreme, acabamos por responder que não há razão para tentar subir e, assim agindo, nem mesmo damos o primeiro passo? Não será no degrau inicial que as coisas emperram?

O degrau inicial é o mais banal possível. Como Sócrates o descreve? Ora, trata-se do ponto de partida da filosofia, que é o amor pelos corpos belos. Cada um quer o corpo belo que vê, e vai passando de experiências em experiências, e inicia então o processo pelo qual, dos corpos belos de seus vários amores na juventude, começa a indagar como que tantas belezas diferentes podem, enfim, serem belezas. Alcebíades é belo e Helena é bela. Eros nos empurra para ambos. Mas Alcebíades é Alcebíades e Helena é Helena, não são eles mesmos o Belo. Por participação no Belo, eles são belos, mas eles próprios, juntos ou separados, não são o Belo. Então, o que é o Belo? Como encontrar o Belo? Se há resposta para tal questão, se é que alguém consegue receber a luz da Forma Belo, então deu o passo para o mundo das Formas e está no final da escada da filosofia. Mas, é exatamente este ponto que Sócrates nunca atingiu nos seus diálogos. Então, este é o ponto a ser notado. O degrau inicial, ao contrário, estaria ao alcance da banalidade de nossos passos, sem que tivéssemos de levantar muito a perna. Ora, será mesmo que o problema todo já não está no início, ou seja, na necessidade de se partir de uma situação na qual Eros está envolvido? Pois, afinal, o ponto de partida tem um requisito: o amor, as experiências amorosas. Sem isso, não se começa!

O filósofo tende a jogar as experiências amorosas ou para um setor da filosofia, o da filosofia prática, quase que como uma ciência, uma proto-sociologia, ou então simplesmente, agora, em nossos tempos, deixar mesmo que sociólogos, psicólogos e médicos cuidem desse pormenor: o amor. Em busca da completude do amor pelas Formas, o amor pelo Bem, não se leva a sério que o ponto de partida é o amor por cada um, o amor erótico que cria não só uma experiência, mas várias, enriquecendo a juventude. Como alguém poderia perguntar pelo Belo se nunca foi capaz de envolver-se em sentido profundo com mulheres belas e/ ou homens belos?

Ora, se a minha hipótese é válida, o abandono de Platão pelos filósofos pode ser até um abandono correto, mas não necessariamente o motivo que alegam é o correto. Não é pelo último passo que se fracassa, a questão é quem nem mesmo se dá qualquer passo, pois ficamos gingando abobados na frente do primeiro degrau. Deveríamos, antes de tudo, perguntar se não estamos descuidando do que nos parece banal, que é o primeiro passo. Quem consegue ir pelo que Eros insufla? Afinal, quem de nós consegue fazer a experiência do amor? Se não há o primeiro passo na escada, como dizer que o último é difícil? Quem pode nos garantir que não largamos a escada não por não conseguir cumprir todos os degraus, e sim porque não cumprimos nenhum?

Seria devaneio isso? Ou os casos concretos de nossas vidas individuais e coletivas mostram que uma boa parte de nós teme Eros, o corpo e a beleza? Talvez estejamos já há muito tão incapazes de dar o primeiro passo na escada que, logo que ouvimos Sócrates, nossa reação é a de apontar para o alto e dizer: lá está a dificuldade. Caso apontássemos para o primeiro degrau, isso nos levaria a ter de ver onde estão as dificuldades próprias de nossa situação. Ou seja, teríamos de desabanalizar a situação banal do amor, do que nos parece o namoro mais corriqueiro, e admitir que não estamos tendo nenhuma experiência, nenhuma vivência, que até agora nunca nem sonhamos em saber o que é a vivência com algum corpo belo. Não vamos mesmo chegar a perguntar pelo Belo, uma vez que nem conseguimos passar pela ligação com uma entidade bela. Não conseguimos tirar da experiência outras experiências, das redescrições outras redescrições, das re-significações outras re-significações uma vez que os corpos trombam conosco, sem que possamos agarrá-los na fusão de corpos do amor. Não caímos sob o jugo de Eros e, por isso mesmo, somos uma eterna página de jornal dominical: muita coisa escrita, sem nada que se aproveite.

Uma história que posso contar aqui, para ilustrar os problemas que todos nós temos com o primeiro passo da escada de Sócrates, é o da relação com uma obra chamada “O beijo eterno”. Trata-se de uma estátua que mostra o amor de um branco por uma índia muito jovem. Ela e ele estão entrelaçados, em um beijo (fig.). Foi um trabalho do escultor sueco William Zadig , de 1920, em relação a um poema de Olavo Bilac, com este nome. Essa obra foi encomendada pelos estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo, a do Largo São Francisco, para ser colocada em um lugar central da cidade, em uma praça da Avenida Paulista. Ela não parou lá e nem mesmo em outros lugares em que as autoridades tentaram acomodá-la. A figura do amor incomodou. Ela foi de canto em canto em São Paulo, sempre tendo em seu encalço movimentos populares ou de grupos exigindo sua remoção. Passou anos no porão da Prefeitura. Em 1962 foi colocada na frente da Faculdade de Direito, como se as autoridades estivessem dizendo, quarenta anos depois: “toma que o filho é teu, a cidade não tolera o amor” (Ver artigo do Blog da Vovó Neusa). Há quem diga que a estátua, hoje, só é incomodada pelos pombos e que, ela própria, não incomoda ninguém. Mentira. Ela é incomodada não so pelos pombos, mas pela urina de mendigos e outros. E ele incomoda, sim. Tanto incomoda que sua história não é contada nas escolas. Não raro, até mesmo os acadêmicos do Largo São Francisco, quando perguntados, não sabem essa história.

Volto a Platão. Qual a razão de O Beijo Eterno, de Zadig, não ser tolerado? É Eros no võo. Aríbalo Ático de Figuras Vermelhas, c. 480-470 a.C.que o amor ali estampado evoca tudo que faz com que o amor seja algo perigoso: ele une o branco ao índio, ele cruza etnias e faz os costumes mudarem. Ele cruza idades. E mais: enquanto toda São Paulo trabalha, desesperada para servir ao mundo industrial moderno, aqueles dois amantes ficam ali, curtindo seus corpos belos, um com a língua na boca do outro. Mostram que não estão nem um pouco preocupados para a dinâmica do trabalho. Tudo é quebrado por Eros. Não à toa Alcebíades não tinha, em seu escudo, um brasão de família, e sim a figura de Eros segurando raios.

Todos dizem que “o importante é o amor”. Dizem isso para que o amor seja transformado em amor-ágape ou amor-philia, não o amor-eros. Banaliza-se o amor para que possamos pisar sobre ele e não senti-lo. A escultura do Beijo Eterno é, ainda hoje, um ponto de atenção e interrogação. Encostada no Largo São Francisco, é tomada como “coisa de estudante”, está no “território livre”, no lugar da “irresponsabilidade”. Os estudantes, um dia, sairão de lá. Irão para a Avenida Paulista ganhar dinheiro. E então, passeando aqui e ali, abrirão um livro de Platão ali em algum livraria do Conjunto Nacional e se interessarão por filosofia. Eis que cairá um deles em meu e-mail ou MSN para dizer: “nossa Paulo, como chegar a esse topo da escada que Platão fala, pela boca de Sócrates, em O Banquete”. E então eu terei de dizer: não sei, pois nós estamos com os pés atados e não temos conseguido colocá-lo, ainda, no primeiro degrau. E completarei: você tem namorada ou namorado? Como é a coisa … Tentarei ver se há chance de achar alguém que tenha escapado do horror ao beijo, eterno ou não.

São Paulo

30 de agosto de 2009

©️ Paulo Ghiraldelli Jr. filósofo

Link: http://ghiraldelli.pro.br/2009/08/do-amor-ou-o-primeiro-degrau/
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OBSERVAÇÕES:

...no espírito do que se pretende como uma critica construtiva, nunca é demais e é importante acrescentar, que esta observação particular em nada diminui, o mérito, o valor e a sabedoria de muitos dos trabalhos de Paulo Ghiraldelli, como não podia deixar de ser, obviamente...


Paulo Ghiraldelli Jr. critica neste texto a óptica Platónica sobre o primeiro degrau para atingir o Bem, o Amor pelas coisas belas...

...mas no entanto, fruto talvez das inúmeras empresas a que acorre, esquece-se de fundamentar convenientemente a critica que aqui pretende explorar...

Senão vejamos:

O Amor pelas formas belas de que fala Platão tem sustentabilidade matemática e é demonstrável !

São elas entre outras e a exemplo:

As ditas simetrias entre a esquerda e a direita ao nível da face e do corpo, do verso e do reverso, são a proporcionalidade global e o efeito de gestalt do objecto observado, assim como são também no campo do relativo, as gravitações de proximidade conceptual que diferem entre os sujeitos cognoscentes desse mesmo objecto, isto falando mesmo, ao nível do Biológico, que trata aqui da perspectiva da Espécie entre inúmeras outras que se poderiam apontar.

( um dado Mamífero por exemplo, tenderá por proximidade "gravitacional" genética, a gostar mais de Mamíferos do que de Répteis, ou de objectos biologicamente familiares, do que de objectos desconhecidos a nível da sua adaptabilidade especifica, etc etc...)

No campo psíquico e intelectual a regra é invariavelmente a mesma alterando-se apenas o grau de complexidade do objecto observado que muitas vezes não se dá à priori, assim a simetria, a proporcionalidade, a coerência estrutural do corpo das ideias e das normas, continuam a ser o motivo central de fundamentação do conceito daquilo que é Belo e do que não é...

Sociologicamente e ao nível comportamental de grupo o mesmo, transita-se do Hardware para o Software, mas as regras mantêm-se, estando sempre omnipresente a noção de proximidade de campo, na produção Ideológica e Cultural...

O Belo é afinal a Ordem e a Ordem existe !
...saibamos assim nós vê-la...

Quanto à questão da fundamentação do Amor, que é e nisso estamos de acordo, antes de mais o Amor por nós próprios, seja pela nossa auto preservação genética e num plano mais complexo ou Histórico, pela herança de Ideias que deixamos para trás no campo Social e que compõem a memoria colectiva posterior daquilo que fomos, uma outra forma de sobrevivência e posteridade portanto, nada há de mais natural e legitimo, facto que está necessariamente em plena concordância com o que anteriormente foi exposto...

O Amor por nós é antes de mais o Porto de Identidade que nos permite de seguida afirmar o Amor pelas outras coisas através da nossa necessidade delas, assim como é nele (neste Porto de Identidade) que se estabelece aprioristicamente, do Biológico para o Social passando pelo plano psíquico, o tal campo Gravitacional de proximidade de que dispomos e que determina a partir de nós, a Ordem evolutiva das coisas e do Mundo onde nos encaixamos...

Gostamos das outras coisas porque as queremos absorver para nós, adicionando a sua "perfeição" à nossa, progredindo assim para um "nível superior" (mais complexo) e garantindo desta forma, a nossa projecção no Tempo e no Espaço, em direcção ao Futuro e à Sobrevivência pela adaptabilidade, isto sempre em relação, ás Estruturas e Super-estruturas dominantes, em que o Cosmos se Edifica e Manifesta...

A Ordem, ainda que percepcionada a partir da nossa posição relativa no Mundo, estabelece-se para nós de forma Universal...

A Beleza emana assim, enquanto Ente para nós, partindo sempre da sua adequação especifica, a da Ordem, à nossa Identidade particular...somos antes de mais, MOMENTUM e CIRCUNSTANCIA !


Até breve ! Wink

Atentamente>FILIPE DE ALBUQUERQUE
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